Não eram todos os que compartilhavam da libertinagem tão comum no cenário musical dos anos 1970 e 1980, onde as agulhas eram compartilhadas por todos e a carne era mero instrumento de prazer. A orgia era uma constância, pelo menos até a AIDS se mostrar mais forte do que este estilo de vida.
Através de sua fé, muitos começaram a contestar toda essa sodomia e passaram a divulgar o Cristianismo através do Rock´n´Roll, até então considerado uma ‘música do diabo’. Ainda que o Stryper seja o grupo que atingiu as grandes massas, a origem do estilo começou nos primeiros anos da década de 1970, tendo nomes como Resurrection Band, Messiah Prophet e Jerusalem reconhecidas como os primeiros a tocar Rock´n´Roll com o desejo de compartilhar o amor de Deus.
Como de praxe, a série “Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás” apresenta alguns dos discos de grupos obscuros – e outros mais conhecidos – mas agora em um especial com somente o Rock Cristão.
JOSHUA:
Como foi dito, o Stryper foi realmente o mais conhecido pelo público, mas não o primeiro que resolveu louvar a Deus através do Hard Rock. E o guitarrista Joshua Perahia (pronuncia-se Pur-i-ya) pode ser considerado como um dos pioneiros do Rock Cristão. Tendo Los Angeles como base e, ainda que não abraçasse o cristianismo no começo de sua carreira, a banda foi batizada com o próprio nome do guitarrista, que é um personagem bíblico.
Assim sendo, o Joshua foi construindo sua reputação bem no comecinho da década de 1980 e, inclusive, teve nomes como Great White e Ratt abrindo suas apresentações nesta época. Não demorou muito para, em 1982, estrearem em disco com "The Hand Is Quicker Than The Eye" pela Enigma Records, que emplacou pelas rádios da cidade o hit "November is Going Away", cuja boa repercussão se espalhou rapidamente pelo resto dos EUA.
Mas a maior surpresa foi o fato de este álbum avançar para outros países e atingir a primeira posição no Japão, cuja imprensa teceu muitos elogios à banda e, principalmente, à velocidade do guitarrista Perahia. E todo seu virtuosismo também foi reparado pela imprensa especializada de inúmeros outros países, tendo a Kerrang o elevando à categoria de 'Personalidade do Ano' neste mesmo de 1982.
Foi neste meio tempo que o guitarrista assumiu o cristianismo, colocando em xeque os músicos que o acompanhavam. Ao anunciar que sua nova fé se estenderia à música, permitiu que seus companheiros decidissem se queriam continuar ou não na banda. O primeiro a cair fora foi o vocalista Stephen Fontaine.
Em 1985, já sob a tutela da Polydor Records, é liberado "Surrender", que trazia como convidados famosas personalidades do Rock Cristão como Jeff Fenholt e Ken Tamplin. Com arranjos reconhecidamente mais profundos e mensagens naturalmente positivas, emplacam "Hold On" e "Your Love Is Gone". A boa fase continua e o novo disco novamente cai nas graças da imprensa.
Mas Joshua queria que seu próximo álbum contasse com o requisitado produtor Dieter Dierks (Scorpions). E foi taxativo neste ponto, pois o guitarrista teve que esperar dois anos (!!!) até que Dierks tivesse sua agenda liberada. Os músicos da banda não esperaram todo esse tempo e seu terceiro disco contou com Emil Lech (baixo), Greg Shultz (teclados), Tim Gehrt (bateria) e a grande estrela, o vocalista Rob Rock (Driver Project).
Tendo assinado com a RCA, enfim, em 1988 a obra-prima "Intense Defense" chega ao público. Ainda que a velocidade, base melódica e o 'jeitão' neoclássico do guitarrista estivessem em seu auge, a atuação dos outros músicos também estão irrepreensíveis, em especial a maravilhosamente potente voz de Rob Rock, possibilitando que este disco fosse considerado por vários críticos como sendo 'o melhor álbum de Metal Melódico de todos os tempos'.
Exageros ou não, seu repertório é excelente e esbanja sentimento a cada composição. Mas infelizmente o disco não recebeu o apoio necessário para vender em seu próprio país, atingindo somente seu público cristão. Mas isso não impediu que novamente a Europa e Ásia os recebessem de braços abertos, possibilitando que o Joshua tocasse para multidões de mais de 40 mil pessoas e abocanhasse nada menos do que 11 discos de ouro – mas, tristeza para seus músicos, nenhum que viesse de seu país natal.
Já era tradição a formação do Joshua não durar muito... Mas desta vez, curiosamente, o guitarrista Perahia seguiu adiante com outro projeto chamado Jaguar juntamente com o vocalista Robin Kyle Bassuri e gravou algumas demos consideradas incríveis por aqueles que tiveram a oportunidade de escutá-las. Mas o Jaguar não passou disso, e então veio outro nome chamado Mpire com Michael O'Mara (voz), Rochrich Joey (baixo) e Eric Stoskopf (bateria), que resultou no álbum "Chapter One", que saiu em 1998 via Long Island Records no Japão e Europa, mas não chegou ao mercado dos Estados Unidos.
Como a Long Islands pediu a falência logo depois de lançar este disco, tudo voltou à estaca zero. Neste mesmo ano Joshua voltou a trabalhar com os companheiros Joey Rochrich e Eric Stoskopf, começando então as gravações com o aclamado produtor Keith Olsen (Scorpions, Heart, Santana). Esse trabalho só saiu no final de 2001 como um álbum-solo do guitarrista chamado "Something To Say", que trazia dois vocalistas – Alex Ligertwood (Santana) e o desconhecido Jerry Gabriel – se dividindo pelo repertório, contando ainda com Scheff (Chicago) para fazer as vozes de fundo e ainda o tecladista Richard Baker (Santana).
Ainda que tenha tido apenas uma moderada repercussão, "Something To Say" reintroduziu o Joshua à cena da música cristã dos Estados Unidos. Mas vendeu muito bem na Escandinávia, Alemanha e Japão, com a imprensa destes países novamente rasgando elogios à obra. A partir daí, o guitarrista se envolveu em alguns projetos, mas sumiu nos últimos tempos...
ANGELICA:
Natural do Canadá, o guitarrista Dennis Cameron tem como uma de suas mais curiosas lembranças o pedido da diretora – uma freira – de sua escola, que solicitou que ele e um amigo baterista tocassem algo em um concerto promovido pela instituição. Com meros 10 anos, Cameron destilou umas sete canções do “Kiss Alive” e, literalmente, deu o que falar pelo resto da semana entre as crianças e administradores do colégio. Parece que a freira tinha em mente algo mais... folk.
O fato é que Dennis rodou por várias bandas tocando covers pelos clubes que promoviam o turismo em sua região. Foi somente aos 21 anos que ‘algo’ o levou a desejar mais originalidade para sua música, e então o guitarrista começou a compor temas com ensinamentos católicos e aperfeiçoar sua habilidade como guitarrista, até que em 1988 já se tinha canções para um álbum completo.
Sob a celestial denominação Angelica e com um cantor chamado Andy Lyon, foi gravado uma demo com cinco faixas, que foi despachada para gravadoras de seu país e EUA. Se por um lado a rejeição pelo Hard Melódico que pregava a palavra de Cristo foi grande, por outro também houve interessados. E, entre esses poucos interessados, o escolhido foi a californiana Intense Records, onde as partes assinaram um contrato para quatro discos.
Além do óbvio Dennis Cameron capitaneando as guitarras, seu primeiro álbum contou com o vocalista Andy Lyon, o baixista Robert Pallen e o baterista Scott Ernest, tendo sido gravado em Costa Mesa, na própria Califórnia (EUA), com a produção dividida entre o confiante guitarrista e Ken Tamplin, que cuidou da gravação das vozes.
Mas Tamplin deve ter transformado a vida de Lyon em um verdadeiro inferno (ops!), pois o vocalista se encheu e largou tudo em meio às gravações. Sob contrato, não houve alternativa a não ser encontrar alguém competente e profissional para compensar o tempo perdido. E a voz escolhida foi a de ninguém menos do que Rob Rock – é, de novo o cara! – que encerrou as sessões de gravação rapidamente.
Sabe-se lá o motivo, mas neste debut a voz é erroneamente creditada a Andy Lyon, e inclusive a foto do vocalista está lá no disco. Chegando às lojas em 1989 sob o simples título “Angelica”, seu belo repertório é repleto de um Hard´n´Heavy de extremo bom gosto em suas melodias. Uma estréia de respeito, realmente.
Tocando guitarra e bateria, Cameron libera “Walkin' In Faith” no ano seguinte. Ainda que menos pesado, a linha musical é basicamente a mesma, porém, por mais que o novo vocalista Jerome Mazza fosse competente e dono de uma voz mais suave que realmente agradasse, não é qualquer um que consegue substituir Rob Rock... Embora esta seja a maior diferença entre esses discos, sua faixa-título é uma das melhores composições que o Angelica liberou em sua carreira.
Mas foi com “Rock, Stock & Barrel”, liberado em 1991, que surgiu seu álbum mais maduro. As guitarras brilham novamente, com incrível precisão, além de agora possuírem uma veia sutilmente mais bluesy. Contando com outro ótimo vocalista, Drew Baca, Pallen mais uma vez no baixo e o baterista Bobby Lawrence, este disco também se caracteriza por apresentar o primeiro vídeo da banda, onde "Cover Me" se revela uma escolha perfeita para tal ocasião.
A escolha desta canção se deu quando a mesma ainda não estava concluída – existiam apenas os esboços em uma demo. E como a equipe já estava indo para iniciar a filmagem às pressas, quem canta na parte acústica de "Cover Me" é o próprio guitarrista, isso durante o processo de gravação do próprio disco. Mas, embora a coisa toda tenha acontecido de forma aparentemente desorganizada, todos os envolvidos apreciaram muito a experiência.
Faltava apenas mais um álbum para, enfim, Dennis Cameron se livrar das estafantes obrigações com sua gravadora. O resultado saiu em 1992 sob o nome “Time Is All It Takes”, onde o Angelica estava reduzido somente a Cameron e Baca... E este é seu disco considerado como o mais fraco, inclusive com uns ritmos funkeados realmente desagradáveis já nas faixas de abertura.
Com tantas mudanças em sua formação, a realidade é que o Angelica acabou se tornando um projeto do próprio Dennis Cameron. Assim, depois de esgotar sua capacidade criativa para honrar o contrato com sua gravadora, que, inclusive, o limitava em muito seus planos de ação, não lhe garantindo o apoio necessário para que a banda atingisse de maneira efetiva o mercado europeu e asiático, o guitarrista decidiu partir para novos rumos.
Formou-se em eletrônica – mas no meio do curso ainda tocou em parte da excursão com o vocalista Michael Sweet (Stryper) – e atualmente trabalha em uma empresa envolvida com alta tecnologia. Mas a paixão pela música voltou a bater forte há alguns anos, quando limpou a ferrugem das cordas de sua guitarra e montou seu próprio estúdio.
E foi em 2002 que esse subestimado guitarrista juntou-se novamente com o antigo companheiro e baixista Robert Pallen, o baterista Phil Elliott e, por último, Jeff Martel ocupando o microfone num projeto chamado Cynical Limit, algo mais Heavy Metal e moderno.
BARNABAS:
Segundo o guitarrista Monte Cooley, fundador de Barnabas, foi em 1977 que o próprio Deus o induziu a montar sua banda de Hard Rock para evangelizar os jovens do sul da Califórnia. Ainda que em sua região não houvesse grupos assumindo essa proposta, o primeiro a responder ao chamado foi o baixista Gary Mann, que ficou sabendo do novo embrião que estava por surgir através de anúncios no Guitar Center´s.
O próximo a ser recrutado foi Lance Johnson, um baterista que insistiu em testar Carolyn Joy para também ser vocalista. Inicialmente, Cooley não apreciou a idéia de uma garota assumindo o microfone, mas, poucos minutos após a menina chegar ao ensaio com seu violão e cantar algumas de suas próprias composições, o Barnabas – denominação em homenagem ao discípulo do Novo Testamento – realmente floresceu.
Apesar de algumas apresentações estarem surgindo, depois de um ano Carolyn e Johnson infelizmente decidiram voltar a Portland em busca de novas experiências, deixando o Barnabas antes mesmo de gravar um primeiro registro. Seus substitutos foram Nancy Jo Mann (voz) e Kris Klingensmith (bateria).
A estréia em disco veio em 1980, sob o nome “Hear The Light”, com canções Hard Rock de arranjos bastante básicos. A partir daí, o Barnabas passou a se estabelecer em entidades cristãs de outras cidades. Primeiro ficou um tempo na Highway Missionary Society em Rogue River, Oregon; depois o grupo se mudou para Jesus People USA, em Chicago, e, posteriormente foi para Schaumburg, Illinois.
Mas o próprio guitarrista e fundador Monte Cooley começou a ficar desiludido e a sentir falta de Los Angeles, decidindo abandonar o grupo. Aos músicos remanescentes restou seguir adiante com Mick Donner na guitarra e, aproveitando o período de mudanças, incluíram também um bom tecladista de Iowa chamado Kris Brauninger.
Com essa formação, o pessoal já tinha como base Des Moines (Iowa), cidade natal de Nancy Jô, e grava “Find Your Heart A Home” em 1982. A instabilidade continuava, mas desta vez a troca de músicos foi realmente benéfica para o Barnabas. Tanto Donner quanto Brauninger deixam a banda, que desta feita encontra em Brian Belew um verdadeiro prodígio na guitarra, que foi reconhecidamente o músico que tornou o Barnabas mais conhecido entre os entusiastas do restrito círculo do Rock Cristão.
“Approaching Light Speed” é lançado em 1983 com a melhor produção já alcançada pelo grupo, onde as canções estão realmente inspiradas – "Stormclouds" e "Waiting For The Aliens" são matadoras – e mostra como um bom guitarrista faz a diferença em qualquer banda que se preste a tocar Rock´n´Roll, além de suas letras serem contundentes e não se limitarem somente ao ‘Jesus ama você’, abordando também vários problemas sociais da época.
É claro que cada um dos músicos tinha um emprego para pagar suas contas. As canções eram criadas durante os momentos de folga, mas a evolução foi contínua, claramente perceptível no excelente sucessor “Feel The Fire”, que chega às lojas em 1984, tendo como grandes momentos "Breathless Wonderment", a épica "Suite For The Souls Of Our Enemies” e "Northern Lights".
Mas a História já comprovou que a tolerância não é um atributo lá muito seguido por muitos que se dizem cristãos... Mesmo que pregasse o Evangelho, o Barnabas ainda era uma banda de Rock que nunca abriu mão de todo o visual inerente ao estilo, e esse visual era bastante chocante! Personalidades como Bob Larson, Jimmy Swaggart e Bill Gothard, famosos por pregar o Cristianismo às grandes massas, foram os maiores detratores da banda, insultando-os constantemente como sendo anticristãos e, pior, demoníacos.
Toda esta ‘má publicidade’ em torno do Barnabas obviamente afastou muitos potenciais fãs, mas também atraiu alguma atenção ao nome da banda. De qualquer forma, a Light Records também exerceu sua pressão para que o conjunto abrandasse o peso de sua música e fizesse uso de um visual mais comportado para o próximo disco.
Seus músicos começaram a entrar em conflito quanto ao rumo a seguir, mas não cederam. Ainda assim, a gravação de “Little Foxes” foi conturbada, mas, assim que foi liberado em 1986, constataram que o público realmente gostou do que ouviu, novamente elogiando o desempenho do guitarrista Brian Belew. Mas, mesmo com a aceitação positiva, o desiludido Barnabes colocou um fim em suas atividades.
Até surgiram tentativas de reunião, mas nunca concluídas com êxito. Apesar de toda a coação, a banda mostrou firmeza de caráter e lutou para não se encaixar no molde que a indústria construíra para os artistas cristãos. Nancy Jo Mann também merece o crédito de ser uma das primeiras mulheres a cantar em uma banda de Hard Metal com temática cristã, além de seu pirotécnico guitarrista elevar o gênero a outros patamares. Em suma, o Barnabas conquistou devotados fãs que começaram a descobrir o Rock Cristão, assim ajudando a inspirar toda uma nova geração de músicos a continuar seu trabalho.
X-SINNER:
O X-Sinner é uma ótima banda oriunda da Califórnia, que foi formada pelo guitarrista Greg Bishop em 1988. Seu curioso nome não possui um real significado, era apenas necessário que representasse Deus e que também soasse legal. Apesar da relativa dificuldade em se conseguir músicos que encarassem pregar o Cristianismo através do Hard Rock, a formação se completa com o vocalista David Robbins, o baixista Rob Kniep e o baterista Michael Buckner.
O X-Sinner foi uma das primeiras contratações da Pakaderm Records, que passou a investir pesado em bandas de Hard Rock cristão. Com a excelente produção dos irmãos John e Dino Elefante, a banda estréia com "Get It", que chega às prateleiras em 1989 e rapidamente é comparado ao AC/DC, em especial pela similaridade das linhas vocais. Mas a banda sabia como colocar boas melodias em sua música, que era realmente mais agressiva que a tal banda australiana.
Reclamações à parte, "Get It" possui tal energia que não deve muito aos grupos que fizeram história em sua região, tanto que muitos não-cristãos nem se importavam se sua música incitava os valores e bons costumes. Com tantos curtindo o disco, o mesmo foi indicado para o prêmio Dove Awards.
Nesta época, para a turnê para a divulgação de “Get It”, foram registrados uma série de momentos considerados como os mais divertidos na carreira do X-Sinner. E nem mesmo a falta de comida decente (é, o pessoal disse que passou fome!) reduziu o prazer de se estar sobre um palco e fazer novas amizades.
Apesar do aparente alto-astral, as dificuldades eram muitas. E um dos problemas mais dolorosos era o fato de o X-Sinner ser discriminado em duas frentes... Era parte do grande público os desprezando por ser uma banda cristã, sem nem ao menos ter escutado sua música; ou alguns cristãos os criticando por serem uma banda de Rock´n´Roll. A vida podia ser mais fácil, não? Além disso, começaram os manjados conflitos de personalidade entre David Robbins e o resto da banda, tendo como resultado a demissão do vocalista.
Em 1991 é a vez do segundo álbum, "Peace Treaty", que trazia o vocalista Rex Scott (Zion). O baixista Rob Kniep teve alguns problemas que impediram que participasse das sessões de gravação e shows. Quem acabou gravando o baixo foi o próprio Bishop e para parte das turnês contratou-se Lou Giovanni, até que Kniep pudesse retornar a seu posto, o que acabou acontecendo posteriormente.
Ainda que a voz de Scott não fosse tão rasgada, "Peace Treaty" seguia a linha musical de seu antecessor. Mas alguns dos músicos confessaram que não gostaram da produção, pois o som ficou mais limpo do que o desejado. Para ajudar, a capa do disco trazia um tema indígena, com um crânio e dois machados, tudo bem artesanal, e essa ilustração foi considerada muito agressiva para ser consumida pelos puritanos cristãos... A alternativa foi uma versão com a foto dos músicos estampada na capa.
O cenário musical estava mudando rápido e radicalmente. Manipulado pela mídia, grande parte do público parecia não querer mais saber de Hard Rock. Era a fase em que o Grunge estava em ascensão e, assim, ninguém mais teve notícias do X-Sinner desde então. Foi somente em 2001 que a banda apareceu com "Loud & Proud" através da Retroactive Records, que nada mais era uma compilação de demos abrangendo os anos 1988/1992.
A mesma Retroactive se propôs a lançar várias das faixas que o vocalista Rex (agora também baterista), o guitarrista Rob e baixista Greg gravaram em estúdio enquanto o X-Sinner estava parado na década anterior. Era algo bem maisntrean e experimental, tanto que os músicos batizaram o projeto como "X-Sinner presents: The Angry Einstein". E assim, aos poucos, a banda foi retornando ao cenário.
Como citado, o X-Sinner não havia aprovado a gravação de "Peace Treaty". Então, depois de uma década, e aproveitando o fato de sua primeira edição já estar fora de catálogo, Rex, Rob e Greg decidiram regravar este disco, que chegou ao público em 2006 batizado como "Fire It Up" com a correta dose de sujeira que tanto valorizavam, e tendo ainda a faixa-título substituindo a balada "Hold On".
Apesar de o trio não conseguir viver da música e residir em localidades distintas – Austrália, Las Vegas e Califórnia – seu último disco foi lançado em 2008 e batizado como "World Covered In Blood". Repertório inédito e temática cristã, a linha se mantém a mesmíssima, com a incrível capacidade de se elaborar refrões marcantes num Hard Rock embalado pela forte veia bluesy que o AC/DC fez escola.
WHITECROSS:
Tendo começado sua trajetória na Chigago de 1986 e investindo em um Hard Rock típico de sua década, o Whitecross teve como membros fundadores o excelente guitarrista Rex Carrol e o vocalista Scott Wenzel. Ainda que suas letras em louvor a Jesus Cristo e Cia não fossem levadas muito a sério pelo público de fora do circuito cristão, a banda não esmoreceu.
Assim, graças à competência de sua música, foi conquistando rapidamente admiradores do Hard Rock propriamente dito, independente se seu conteúdo lírico. E, mesmo que o Whitecross fosse atormentado pelas regulares mudanças em sua formação desde essa época, assina com o selo Pure Metal Records e em 1987 grava seu primeiro registro auto-intitulado.
Sua música era bastante pesada e beirava o Heavy Metal, mas “Whitecross” era convincente e tão apegado à pregação que teve sua excursão de 1988 amplamente apoiada pelos fãs do Rock Cristão, inclusive participando do sueco “Scandinavium Festival”, em Gotemburgo. Amparados pela boa repercussão e agora na Star Song Records, liberam neste mesmo ano o EP “Love On The Line” e o álbum “Hammer & Nail”, que, novamente, somente faz crescer o nome Whitecross.
Sua música foi mudando e as comparações com o Ratt passaram a ser freqüentes, mas totalmente justificadas. Inegavelmente a voz de Wenzel e muito do estilo do guitarrista Carrol sofriam claras influências dessa banda, mas toda a técnica, melodias e sujeira continuavam causando efeitos positivos sobre o público e crítica.
E foi em 1991, onde os dedicados Wenzel e Carrol agora vinham amparados pelo baixista Rick Armstrong e o baterista Mike Elliott, que o Whitecross liberou “Triumphant Return”. Este disco era mais polido e foi tão bem recebido que possibilitou que a banda passasse para outro nível ao ganhar o prêmio Dove Awards para a categoria de ‘Melhor álbum de Hard Rock do Ano’.
Para divulgação deste excelente trabalho, o grupo parte excursionando pela Europa e América do Sul, cuja recepção comprovou que o nome Whitecross já havia ultrapassado as fronteiras de seu país. E, na esteira desta boa fase, a banda novamente vai orientando seu Hard Rock em direção ao mainstream ao lançar em 1991 outro disco premiado pelo Dove Awards, “In The Kingdom”.
No ano seguinte, “High Gear”, onde tocaram ao lado de notáveis nomes como Stryper, Steve Taylor e vários outros. E foi neste ponto que houve a inesperada ruptura na força criativa do Whitecross, pois em 1993 quem estava deixando seu posto era Rex Carrol, cujas guitarras, composições e produção definiam tanto da musicalidade da banda.
Carrol procurava outras experiências e trabalhou com produções musicais, gravou um álbum-solo inspirado pelo blues chamado "The Rex Carroll Sessions" em 1995 e também montou uma banda chamada King James junto com o cantor Jimi Bennett e dois ex-membros do Stryper, Tim Gaines (baixo) e Robert Sweet (bateria), que, dizem, tinha como delicada missão divulgar os benefícios do Cristianismo entre os torpes motociclistas dos EUA – mas é cada uma! Haja milagre para tal feito...!
Assim, coube ao vocalista Scott Wenzel em carregar agora sozinho sua cruz, que tinha como peso extra as compreensíveis dúvidas dos fãs, que realmente não sabiam o que esperar do próximo álbum da banda. Em 1993 o vocalista libera seu primeiro disco solo chamado "Heart Like Thunder" e, no ano seguinte, tendo recrutado o guitarrista Barry Graul, além de Mike Feighan (bateria) e Tracy Ferrie (baixo), o Whitecross apresentou seu tão aguardado novo disco, “Unveiled”.
E a proposta estava bem diferente do passado. Ainda que faixas como "Home In Heaven" e “Good Bye Cruel World” sejam decentes, “Unveiled” praticamente baniu o Hard Rock ao apresentar uma considerável dose de modernismo que visava claramente às rádios, o que fatalmente dividiu o público. Mas, ainda assim, a faixa "Come Unto The Light" mordiscou a premiação do Dove como a ‘Melhor Música Hard Rock do Ano’.
E os experimentos continuam nos subseqüentes “Equilibrium” (95) e “Flytrap” (96), este último com Quinton Gibson na guitarra, fornecendo mais munição para que fosse reforçada a forte preferência do público pela primeira fase do Whitecross. De qualquer forma, a banda caiu no ostracismo quando Wenzel partiu para um trabalho missionário em algumas comunidades do distante Paraguai em 1998.
Foi somente em 2004 que o núcleo do Whitecross novamente se reúne, mas não para gravar um álbum de inéditas... Depois de mais de uma década, o que os velhos fãs recebem de Carrol e Wenzel é basicamente uma regravação de seu primeiro álbum, agora batizado como “'Nineteen Eighty Seven'” e com uma qualidade de gravação realmente muito superior.
Quanto ao futuro do Whitecross? Bom... Até surgiram rumores de um novo álbum em vista depois que tocaram no festival “Legends Of Rock” alemão em 2008, mas a realidade é que só Deus sabe – literalmente!
PETRA:
Sempre lembrada com carinho pelos amantes do Rock Cristão, o Petra (palavra grega que significa Rocha) é um dos precursores do estilo, tendo iniciado sua trajetória em 1973, quando os guitarristas e compositores Bob Hartman e Greg Hough se uniram com o baixista John DeGroff. Estudantes do Centro de Formação Cristã de Indiana, o trio tinha plena consciência de que sua vocação musical era claramente um dom de Deus.
Seu primeiro álbum, auto-intitulado, contava com o baterista Bill Glover e saiu em 1974 pela gravadora Myrrh/A&M, sendo frequentemente comparado com o Lynyrd Skynyrd e Eagles. Suas apresentações visavam apresentar o Evangelho para o público e ocorriam em pequenos locais como cafés ou porões de igrejas do centro-oeste norte-americano. Curiosamente, algumas autoridades eclesiásticas lutaram contra o concerto de Rock em suas igrejas, mas sempre havia algumas rádios dispostas a mostrar sua música.
A decisão de contratar os serviços de gerenciamento do experiente Mark Hollingsworth também ajudou muito ao Petra em atingir o sucesso que estava por vir. Até 1979 tinham liberado “Come And Join Us” (77) e “Washes Whiter Than” (79) e mantido a estabilidade de sua formação, ainda que Greg X tenha começado a cantar em algumas canções desses discos.
O fato é que o Petra foi desenvolvendo seu estilo para uma mescla de Hard Rock, Rock Pop, AOR e conquistando um público que ia além dos comportados cristãos. Na década de 1980, tão conhecida pelo exagero do visual de suas bandas, o máximo que o Petra encarou foi tocar usando trajes camuflados... O foco era mesmo a música, tão carismática que foram nomeados pela primeira vez ao Grammy Award de ‘Melhor Performance Gospel’ quando lançou “Not Of This World” em 1983, pelo selo A&M Records.
Sendo a primeira banda de Rock Cristão a realizar freqüentes turnês, a qualidade de sua música geralmente não sofria com a instabilidade que a formação do grupo passou a enfrentar. Vários músicos partiram para outros projetos ou carreiras-solo, mas a música do Petra, tendo à frente o líder Bob Hartman, parecia se adaptar às influências de cada novo músico a ponto de passarem a arrebatar constantemente os mais conceituados prêmios da indústria musical.
Mas foi com “Petra Praise: The Rock Cries Out” que o grupo ganhou seu primeiro disco de ouro. Um milhão de álbuns onde se louvava a Deus tendo o Rock´n´Roll como fundo musical... Os tempos mudam mesmo! Este disco também marcou uma significativa alteração na linha de trabalho da banda, pois foi a partir daí que a imagem dos músicos passou a figurar nas capas dos discos. Mas o melhor estava por vir!
Em 1990 o Petra contava com Hartman (guitarra), John Schlitt (voz), Tony Cates (baixo), John Lawry (teclados) e Louie Weaver (bateria), e liberaram “Beyond Belief”. Com a produção de John e Dino Elefante, o nível de seu Hard / AOR havia atingido tal refinamento que se tornou o maior sucesso comercial da banda, novamente empurrando o Petra para o topo das paradas da música Gospel.
Desta vez a banda foi premiada com o Grammy de ‘Melhor Álbum de Rock Gospel Contemporâneo’. Várias das turnês para a divulgação deste disco foram em parceria com o escritor e apologista cristão Josh McDowell, ajudando a legitimar o ministério da banda aos olhos de muitos cristãos.
Ainda que continuasse a liberar seus premiados discos, foi na metade da década de 1990 que o mentor Bob Hartman decidiu não acompanhar mais a banda durante as tão cansativas excursões. Sua prioridade agora era a família, e sua função em relação ao Petra se limitaria às composições, produção e tocar guitarra nos estúdios.
As alterações de músicos novamente se tornam freqüentes e alguns discos dividem a opinião do público, mas o Petra segue adiante. O maior escândalo foi a conturbada saída do veterano baterista Weaver em 2003. Neste mesmo ano chega às lojas “Jekyll & Hyde”, cujas guitarras distorcidas, ausência de solos e teclados possibilitaram que este seja considerado o mais pesado disco da banda. Mas, ainda que tenha sido nomeado para mais um Grammy e contasse com o apoio de muitos fãs, 2005 foi o ano em que o Petra anunciou sua aposentadoria e fez uma excursão de despedida pelo planeta.
Mais de três décadas que geraram 24 álbuns, onde vários atingiram a primeira posição nas rádios. Venderam aproximadamente 10 milhões de cópias, ganharam quatro Grammys e 10 Dove Awards. Além disso, o Petra está no Gospel Music Hall Of Fame e foi a primeira banda cristã a ser introduzida no Hard Rock Café. E mantiveram a atitude, meus caros! Seu compromisso com a pregação do Evangelho através do Rock´n´Roll se manteve aceso até o fim!